22.9.17

O que é ser pobre de Espírito?

Você alguma vez orou para Deus te ajudar a ser mais pobre? Não?!

Afinal, ninguém quer ser pobre, não é mesmo?

Mas Jesus disse que dos pobres será o Reino dos Céus.

Vamos conferir? ;)





Já no comecinho do primeiro livro do Novo Testamento, bem no capítulo 5, verso 3, vemos um dos ensinamentos mais arrebatadores de Jesus:

“Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus”. Mt 5.3

Deles é o que?!

Foi isso mesmo o que você ouviu – ou melhor – leu. O reino dos céus pertence às pessoas que são pobres de espírito.

Um dos primeiros discursos de Jesus em seu ministério público foi o famoso “sermão do monte”. Não obstante, foi exatamente nesse sermão que Ele pregou essa mensagem sobre a pobreza de espírito que tem se tornado tão polêmica ultimamente. Como Jesus sabia o que era mais importante ensinar, Ele não perdeu tempo e foi direto ao ponto revelando a necessidade mais básica do homem: 

A necessidade de buscar a Deus.

Se você ainda não sabe – espero que saiba – o termo “bem-aventurado” significa:

Feliz, muito feliz, felicíssimo, o mais feliz de todos, transbordando de felicidade.

Está bem, está bem. Eu já entendi. O cara é bastante feliz!

Sim, isso mesmo. Mas o buraco é beeeeeeeem mais embaixo do que você pode imaginar. Jesus estava se referindo a uma felicidade profunda e permanente, e não apenas a uma “experiência emocional passageira”.

Você já ficou feliz ao ganhar um presente? Claro que sim.

Você já ficou feliz em um momento ótimo da sua vida? Claro que sim.

Está feliz com isso ainda? Suponho que não.

Essa felicidade provavelmente acabou depois que os efeitos daquela sensação terminaram. Quando você ganha um presente que você tanto quer, você alcança certo nível de carga de felicidade. Ela pode durar minutos, horas ou dias. Mas uma hora ela acaba. E a tristeza e o vazio voltam a dominar seu coração. Tudo volta como era antes. Essa é a felicidade do mundo. Limitada.

Mas não é a que Jesus oferece.

Jesus estava falando de uma felicidade que não depende de momento nem de experiência. Ele não estava se referindo a uma felicidade passageira. Ela se referia a algo mais constante e equilibrado.

Essa felicidade representa uma das necessidades primordiais para o ser humano, mas poucos são os que realmente a experimentam.

Mas aí você me pergunta:

Bruno, como eu consigo essa felicidade constante que nunca acaba?

Aha! Boa pergunta!

Bom, eu não tenho a resposta. L

Desapontado?

Não tem problema. Eu sou humano. Humanos sempre desapontam um ao outro. Mas tem um que nunca vai te desapontar. E é Ele quem tem a resposta. Vamos ver?

Antes de tudo, vamos dar uma rápida olhada para aprendermos o que Jesus fala sobre o espírito. O nosso espírito é a parte que nos faz sensíveis à comunicação com o Espírito Santo de Deus. É a parte do homem que lhe permite perceber, refletir, desejar e sentir. Essa é a única parte que determina como o homem é diante de Deus.

Até aqui tudo bem?

Agora, todo mundo sabe o que significa ser “pobre”, não sabe? Bem, o pobre é aquele que carece de recursos. É um necessitado. Aquele que sabe que tem pouco para oferecer a si mesmo. Alguns dizem que no grego a palavra “pobre” tem o mesmo significado que a palavra “mendigo”. Bom, se isso for verdade, podemos a partir de agora trocar uma palavra pela outra. 

De maneira geral, o mendigo é o mais pobre dos pobres. Ele não tem onde cair morto. É totalmente necessitado dos outros. Podemos então rescrever o texto de Mateus 5.3 como “Muito felizes são os mendigos de espírito”.

A verdade é que geralmente nutrimos na nossa mente uma certa sensação de desprezo por quem é mendigo. Ninguém quer ser mendigo, quer? Segundo a opinião pública, a mendicidade não é considerada normal, muito menos algo bom. Quem é mendigo é porque é amaldiçoado ou porque tomou escolhas erradas na vida.

Então por que Jesus disse que os mendigos de espírito terão o reino dos céus, ora essa?!

Calma, calma. Já já você vai ligar os pontos.

Infelizmente, para a nossa surpresa, Jesus nos ensina que uma das condições para se chegar no reino dos céus é mendigando.

Quê?!

Pensa comigo, como é que um mendigo se atreve a pedir ajuda? Ele não tem vergonha?

Bom, ele provavelmente tem sim. Mas o que ele pode fazer? Se ele não pedir, ele não irá morrer de fome? Que escolha ele tem? O mendigo entende a sua total dependência de sobreviver às custas dos outros. Ele sabe que sem essa ajuda ele não sobrevive. Ele compreende totalmente que sua existência depende do auxílio de alguém. Então, ele pede.

Pede. 

Pede. 

Pede. 

Pede. 

Até que alguém lhe dê.

Por que olhamos com desprezo a mendicidade? Simples. Porque temos orgulho de sermos independentes e suprirmos a nossa própria necessidade sem a ajuda de ninguém. Não queremos – e não gostamos – de depender dos outros. A pessoa que não consegue prover  para si mesma é considerada incompetente. Nós, seres humanos, cremos que temos “independência”. Que podemos fazer o que quisermos.

Aqueles que não têm nenhum recurso financeiro, consegue entender muito bem o que é ter que “mendigar”. Um mendigo financeiro mendiga “dinheiro”, um mendigo de espírito mendiga “saúde espiritual”.

Opa. Agora começou a fazer sentido!

Mutias vezes tentamos alcançar as bênçãos espirituais com a mesma autossuficiência que buscamos as coisas materiais.

“Eu posso buscar a Deus sozinho”

“Eu consigo ser mais espiritual sozinho”

“Se eu fizer isso, serei mais espiritual e santo”.

Não. Você não consegue nada disso sozinho. A verdade aqui é que temos que nos aproximar de Deus como mendigos. A nossa oração a Deus deve ser a seguinte:

“Senhor, não tenho o que necessito e dependo inteiramente de ti para obter o que é necessário para me alimentar espiritualmente.. Não tenho outra saída. A única opção que tenho é “mendigar” perante o Senhor"

Todo recurso espiritual vem do Senhor. Tudo o que Ele nos dá, vem dEle porque pedimos a Ele.

Isso é ser pobre de espírito. Reconhecer que dependemos inteiramente dEle para nos suprir com sua graça e misericórdia diariamente e não buscar essas virtudes em lugar algum a não ser nEle. 

Pedindo. 

Mendigando. 

Implorando até Ele nos dar.

Mas será que Deus quer mesmo que peçamos a Ele como mendigos? Vamos ver alguns exemplos de “mendigos” na Bíblia:

Exemplo 1: Um Pão para o amigo.



Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
Pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe;
Se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar;
Digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister.
E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;

Jesus nos conta uma história onde um amigo vai pedir pão para o outro amigo. Infelizmente, o dono da casa não está com vontade de ajudar. Ele está com sono e cansado. Mas, se o amigo implorar, insistir, mendigar, uma hora certamente ele receberá.
Essa é a atitude de que Deus requer de nós em relação à nossa vida espiritual. Ele quer que peçamos insistentemente.

Conheço um relato bonito do livro "As Crônicas de Nánia" do C.S.Lewis:

- Se Deus  já sabe o que precisamos antes mesmo de pedirmos, por que ele faz questão que peçamos?

- Bom, acho que ele gosta de nos ouvir pedir.

A condição de sermos mendigos de espírito é requisito para entrarmos no Reino do Céus.

A maioria das pessoas confia em sua própria religião ou nas “coisas boas” que fazem e raramente reconhecem a necessidade de ser mendigos de espírito. Vamos dar uma olhada em mais um exemplo prático:


Exemplo 2: Os cachorrinhos



Uma mulher cananéia, natural dali, veio a ele, gritando: "Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Minha filha está endemoninhada e está sofrendo muito".
Mas Jesus não lhe respondeu palavra. Então seus discípulos se aproximaram dele e pediram: "Manda-a embora, pois vem gritando atrás de nós".
Ele respondeu: "Eu fui enviado apenas às ovelhas perdidas de Israel".
A mulher veio, adorou-o de joelhos e disse: "Senhor, ajuda-me! "
Ele respondeu: "Não é certo tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos".
Disse ela, porém: "Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos".
Jesus respondeu: "Mulher, grande é a sua fé! Seja conforme você deseja". E naquele mesmo instante a sua filha foi curada.
Mateus 15:22-28  

Oh, eis aí uma bela mendiga espiritual! Ela precisava de Jesus. Somente dEle. Mas Ele se recusou a atendê-la. O que ela iria fazer? Dar as costas e ir embora?

E tinha outra pessoa que podia ajudá-la?

Jesus era o único que tinha poder para curá-la. Não havia outra opção. Não havia plano B. A única saída dela era se humilhar. Se rebaixar ao menor nível. Mesmo sendo chamada de “nada”, ela continuou implorando.

Imagine se um mendigo te aborda na rua pedindo dinheiro e você o repreende da seguinte maneira:

- Sai p'rá lá, seu nojento!

Certamente o mendigo irá ficar furioso com você e ir embora.

Mas, um mendigo verdadeiramente humilde e que reconhece que está nos últimos momentos de sua vida, diria:

- Senhor, tudo o que você disse é verdade. Sou um nojento. Não tenho onde cair morto. Sou um miserável. Estou aqui por minha própria culpa. Estou pagando pelos meus erros. Mas, confesso, não tenho outra saída a não ser implorar pela sua ajuda. Ou você me ajuda, ou morrerei. E continuarei implorando até você me dar. Ou morrerei aqui tentando.

Oh, esse é um argumento que convenceria qualquer pessoa a enfiar a mão no bolso e tirar algumas moedinhas, não acha?!

Foi isso o que essa mulher fez.

- Senhor, tem razão. Sou uma cachorrinha. Não tenho valor nenhum. Mas, mesmo estando nessa condição, não me envergonho de vir aqui implorar por sua ajuda. Pois, sem ti, meu problema não tem solução.

Tem como Jesus recusar um argumento desse?!

Essa mulher entrou na presença de Jesus pecadora e saiu dela com todos os seus pecados perdoados.

Como ela conseguiu isso?

Mendigando.

Mostrando pobreza, dependência e insuficiência de espírito. Reconhecendo que se Jesus não a ajudasse, ela não teria nenhum outro lugar para pedir ajuda. Ou Ele a ajudava ou Ele a ajudava. Não havia outra opção.

Para finalizar, vamos ver só mais um exemplo de mendigo de espírito. Vamos estudar rapidamente o cego Bartimeu.

Exemplo 3: O Cego Bartimeu



Então chegaram a Jericó. Quando Jesus e seus discípulos, juntamente com uma grande multidão, estavam saindo da cidade, o filho de Timeu, Bartimeu, que era cego, estava sentado à beira do caminho pedindo esmolas.
Quando ouviu que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: "Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! "
Muitos o repreendiam para que ficasse quieto, mas ele gritava ainda mais: "Filho de Davi, tem misericórdia de mim! "
Jesus parou e disse: "Chamem-no". E chamaram o cego: "Ânimo! Levante-se! Ele o está chamando".
Lançando sua capa para o lado, de um salto, pôs-se de pé e dirigiu-se a Jesus.
"O que você quer que eu lhe faça? ", perguntou-lhe Jesus. O cego respondeu: "Mestre, eu quero ver! "
"Vá", disse Jesus, "a sua fé o curou". Imediatamente ele recuperou a visão e seguia a Jesus pelo caminho.
Marcos 10:46-52

Isso é o que eu chamo de mendigar! Não leia o relato tão rápido. Há muitos tesouros para serem escavados ali!

O cego Bartimeu reconhecia que precisava de Jesus. Ele gritava “Jesus”, mas a multidão o repreendia.

- Cala a boca, cego idiota!

- Jesus, me cura!

- Fica quieto, cego imundo!

- Jesus, eu preciso de ti!

- Cai fora, seu mendigo imundo!

Foi então que, com suas palavras encantadoras, “Filho de Davi”, reconhecendo que Jesus era realmente o messias prometido, Jesus o ouve. Perceba que Jesus só responde na segunda vez.

-Chamem-no! - Disse Jesus.

Aha, agora ele conseguiu a atenção de Jesus! Bastou insistir apenas um pouquinho. Bastou apenas mendigar sua atenção.

Ele conseguiu.

É isso que Deus requer de nós. Que mendiguemos sua atenção. Sua graça. Seu espírito. Que o busquemos continuamente reconhecendo que Ele é TUDO de que precisamos e, sem Ele, nada poderemos fazer.

Isso é ser pobre de espírito.

1) Reconhecer a nossa dependência total dEle continuamente;
2) Buscarmos sua presença e seu espírito mais profundamente;
3) Não confiarmos jamais em nossas próprias forças;


Se você foi edificado com essa palavra, irmão, por favor, compartilhe ou deixe algum comentário.

Deus te abençoe.


4 comentários:

  1. Excelente artigo, Bruno! Infelizmente, é natural ansiarmos pela autossuficiência. Não queremos ter que depender de ninguém, nem de Deus! Desde o Éden queremos controlar, "mandar na nossa vida". Acabamos nos esquecendo "no meio do caminho" que não somos donos de nada: nem da nossa vida (que Ele dá e Ele toma quando quiser), nem dos nossos dons/talentos/bens (tudo é dEle, apenas somos mordomos), nem de nossos diplomas, conquistas... Enfim, quando nos lembramos de que a vida não nos pertence, e que estamos aqui de passagem, fica mais fácil nos quebrantar, render e submeter a Deus. Apenas quando reconhecemos nossa pobreza e insuficiência é que podemos depender de Sua riqueza e suficiência. Por que realmente dEle, por Ele e pra Ele são todas as coisas, inclusive nós, e tudo que somos e temos (família, amigos, dons, bens, e tudo mais).

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    1. Verdade. Aprender a depender de Deus também é uma disciplina que temos que praticar. Faltou essa no livrinho "Disciplinas Espirituais". rs

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  2. Respostas
    1. Obrigado, meu amor. :) Realmente, os exemplos que usei são todos lindos e demonstram o quanto pessoas comuns como eu e você buscaram a Jesus profundamente até eles lhes dar o que eles necessitavam. Eu preciso ser mais "pobre de espírito" :)

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Resenhas mais antigas:

Livros que estou lendo no momento. (Resenha em breve)

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